O rover Curiosity faz primeira análise em raios-X do solo marciano

2012-10-31

Em cima: O gráfico mostra os resultados da primeira análise do solo marciano realizada pelo CheMin, instrumento de Química e Mineralogia a bordo do rover Curiosity da NASA. Crédito: NASA/JPL-Caltech/Ames. Em baixo: O par de imagens mostra a parte superior de um depósito formado pelo vento e designado por Rocknest, de onde o Curiosity recolheu material. As cores da imagem da esquerda são inalteradas, mostrando a paisagem como ela é em Marte, que tem uma atmosfera empoeirada de cor vermelha. A imagem à direita foi tratada para mostrar o que seria a mesma área sob as condições de iluminação da Terra. Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS.
O rover Curiosity da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
revelou que a mineralogia do solo marciano é semelhante à de solos basálticos
basalto
O basalto é uma rocha eruptiva, vulcânica, de cor escura ou negra, e muito dura.
de origem vulcânica do Havai, alterados pela exposição ao clima.

Os minerais foram identificados na primeira amostra de solo marciano recolhida recentemente pelo rover. O Curiosity utilizou o seu instrumento de Química e Mineralogia, o CheMin, para obter os resultados que estão a preencher lacunas e a dar fundamento a estimativas anteriores sobre a composição mineralógica do solo do Planeta Vermelho.

"Previamente, houve muitas ilações e discussões sobre a mineralogia do solo marciano", disse David Blake, do Ames Research Center da NASA, em Moffett Field, Califórnia, principal investigador da CheMin. "Os nossos resultados quantitativos forneceram identificações mais apuradas, e em alguns casos novas, dos minerais, nesta primeira análise por difracção
difracção
A difracção é o fenómeno observado quando a radiação, ao propagar-se, encontra um obstáculo opaco ou passa por uma abertura muito estreita. As ondas de radiação que passam mais próximas do bordo do obstáculo são deflectidas, de forma que: por um lado, contornam o obstáculo e aparecem na região que devia ser de sombra, tornando a fronteira entre a zona de sombra e a zona iluminada pouco definida; e por outro lado, interagem com as ondas de radiação mais próximas, resultando em aumentos e diminuições da intensidade da radiação fora da região de sombra do obstáculo - são os padrões de difracção. A difracção é uma propriedade ondulatória.
de raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
em Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
."

A identificação de minerais nas rochas e no solo de Marte é fundamental para o objectivo da missão, de avaliar as condições ambientais existentes no passado. Cada mineral regista as condições em que se formou. A composição química de uma rocha fornece apenas informação mineralógica ambígua, como no caso típico do diamante e da grafite, que têm a mesma composição química, mas diferentes estruturas e propriedades.

O CheMin usa a difracção de raios-X, uma prática standard para os geólogos que na Terra a realizam através de instrumentos de laboratório muito maiores. Este método consegue identificar com mais precisão os minerais do que qualquer outro método anteriormente usado em Marte. A difracção de raios-X lê a estrutura interna dos minerais, registando o modo distinto como os seus cristais interagem com os raios-X.

As inovações conseguidas pelo Ames Research Center traduziram-se num instrumento de difracção de raios-X suficientemente compacto para caber dentro do rover. Estes avanços tecnológicos da NASA tiveram como resultado outras aplicações na Terra, incluindo equipamento compacto e portátil de difracção de raios-X para a exploração de petróleo e gás, para a análise de objectos arqueológicos e para triagem de produtos farmacêuticos falsificados, entre outras utilizações.

"A equipa está muito contente com os primeiros resultados conseguidos pelo nosso instrumento", disse Blake. "Aumentam a nossa expectativa em relação a análises futuras a realizar pelo CheMin, ao longo dos meses e quilómetros que o Curiosity tem à sua frente."

A amostra específica para primeira análise do CheMin veio de solo que o Curiosity recolheu de uma mancha de poeira e areia a que a equipa deu o nome de Rocknest. A amostra foi processada através de uma peneira para excluir as partículas de dimensões maiores que 150 micrómetros
mícron (µm)
O mícron (µm), ou micrómetro, é uma unidade de comprimento que corresponde à milésima parte do milímetro: 1µm = 10-3mm = 10-6 m.
, mais ou menos da largura de um cabelo humano. A amostra tem pelo menos duas componentes: poeira distribuída de forma global pelas tempestades e areia fina originada mais localmente. Ao contrário dos conglomerados investigados há algumas semanas pelo Curiosity, que têm vários milhares de milhões de anos de idade e apresentam sinais de água corrente, o material de solo analisado pelo CheMin é mais representativo de processos acontecidos recentemente em Marte.

"Uma grande parte de Marte está coberta de poeira, e nós tínhamos um conhecimento incompleto da sua mineralogia", disse David Bish, co-investigador do CheMin com a Universidade de Indiana em Bloomington. "Sabemos, agora, que é semelhante ao material basáltico, com quantidades significativas de piroxena, feldspato e olivina, o que não é inesperado. Cerca de metade do solo é material não cristalino, como vidro vulcânico ou produtos alterados pela exposição do vidro ao clima."

Bish acrescentou ainda: "Até agora, os materiais que o Curiosity analisou ajustam-se às nossas ideias iniciais sobre os depósitos na cratera Gale, registando a transição através do tempo de um ambiente húmido para seco. As rochas antigas, como os conglomerados, sugerem a existência de água corrente, enquanto os minerais do solo mais jovem sugerem interacção reduzida com a água. "

Durante a missão principal de dois anos do Mars Science Laboratory Project, os investigadores estão a utilizar os 10 instrumentos do Curiosity para investigarem se as áreas da cratera Gale já ofereceram condições ambientais favoráveis à vida microbiana.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/home/hqnews/2012/oct/HQ_12-383_Curiosity_CheMin.html