Antíope, um asteróide duplo

2007-03-31

Observações de Antíope com o VLT (ESO), durante 2004. Crédito: ESO.
O asteróide
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
Antíope foi descoberto em 1866 por Robert Luther, um astrónomo alemão. Em 2000, W. Merline e os seus colaboradores determinaram que o asteróide era composto por duas componentes de tamanhos semelhantes, o que faz de Antíope um asteróide duplo.

Em Janeiro de 2003, uma equipa de investigadores, liderada por P. Descamps (Observatório de Paris), deu início a uma campanha de observação do asteróide utilizando diversos telescópios, entre eles o VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
), no Chile, e o Telescópio Keck
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
(Caltech/NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), no Havai.

Dois anos e meio de observações permitiram determinar com grande precisão o percurso das duas componentes do sistema. Estas estão separadas por 171 km e completam uma volta em torno uma da outra em 16,5 horas. Conhecendo a órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
, os astrónomos derivaram a massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
total do sistema: 828 biliões de toneladas
tonelada (t)
A tonelada (t) é uma unidade de massa equivalente a 1000 kg.
. Também verificaram que os dois objectos rodam à volta do seu próprio eixo com a mesma velocidade com que orbitam um em torno do outro.

As componentes individuais de Antíope são suficientemente pequenas para que nem os grandes telescópios as consigam resolver. Mas os astrónomos, conhecendo bem a órbita das componentes, conseguiram prever eclipses
eclipse
Um eclipse é uma ocultação total ou parcial de um corpo celeste, quando outro corpo passa entre este e o observador.
e ocultações
ocultação
Designa-se por ocultação a ausência de luz proveniente de um objecto celeste devido à sua passagem por detrás de outro objecto celeste. Por exemplo, o eclipse do Sol é uma ocultação do Sol.
, o que permitiu estudar indirectamente as suas formas individuais. Para este estudo, a equipa convidou astrónomos amadores e profissionais de todo o mundo a participar em campanhas de observação para medir a diminuição de brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
cada vez que um dos fenómenos ocorria.

Os novos dados permitiram determinar que os dois corpos que constituem Antíope têm a forma de elipsóides, ou seja, esferas ligeiramente deformadas, com dimensões semelhantes: 93,0 x 87,0 x 83,6 km e 89,4 x 82,8 x 79,6 km.

Este resultado coincide com o previsto pelo cientista francês Edouard Roche, em 1849, ao estudar objectos fluidos que se orbitam mutuamente. Claro que os asteróides não são líquidos, pois são sólidos, mas sua estrutura interna deve ser tão solta que os seus corpos podem moldar-se devido à influência gravitacional do companheiro.

Os investigadores determinaram a densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
das componentes de Antíope e verificaram que esta é apenas 25% superior à da água, o que significa que os asteróides são muito porosos, tendo cerca de 30% de espaço vazio. Esta estrutura explica porque é fácil estes asteróides chegarem a uma forma de equilíbrio.

Este estudo encontra-se publicado na revista científica Icarus.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2007/pr-18-07.html