Origem do nome da constelação e das suas estrelas principais



Imagem da constelação de Orionte, em que as estrelas mais brilhantes normalmente utilizadas para identificar a constelação surgem bem destacadas. Crédito: © Bill & Sally Fletcher, Science & Art (http://www.ScienceAndArt.com)
A constelação é conhecida desde a antiguidade. O registo conhecido mais antigo remonta a cerca de 4 milénios a.C. e mostra que os Sumérios viam ali o seu grande herói Gilgamesh a lutar com o touro celeste (provavelmente a vizinha constelação do Touro). Para os Acádios tinha o nome de Uru-Na-Na, a Luz do Céu, uma divindade que viria a ter o nome de Dumu-zi, o Filho da Vida, para Assírios e Caldeus. Esse nome era originalmente dado ao Sol, ao mesmo tempo que a Lua era A Luz da Terra, Uru-ki.

A constelação surge numa escultura dum templo egípcio de cerca de 3285 a.C. tendo então o nome de Sahu. Mais tarde surge como sendo Hórus num barco navegando sobre estrelas, seguido por Sírio representado como uma vaca a bordo doutra embarcação.

Desde os primórdios da civilização grega que o mito de Orionte é bem conhecido, como se pode verificar pela sua inclusão nos textos de Homero e Hesíodo, ambos do séc. IX a.C. Na Odisseia, Homero descreve Orionte como um gigante caçador, armado com uma moca de bronze maciço e inquebrável, que andava sempre acompanhado pelos seus dois cães (Cão Maior e Cão Menor) que no céu perseguem uma presa (a Lebre).

Curiosamente, sendo Héracles o maior herói da mitologia grega, seria de esperar que lhe fosse atribuída uma constelação condigna com esse estatuto. No entanto a que tem o nome latino do herói, Hércules, é bastante discreta, ao contrário da de Orionte que é magnífica. É possível que Orionte seja outra versão do mesmo herói. Um argumento a favor dessa possibilidade pode encontrar-se no texto de Ptolomeu referente a Orionte, no qual o descreve como estando em posição de combate e tendo na mão direita uma moca enquanto com a esquerda segurava uma pele de leão. Ora estes acessórios eram normalmente atribuídos a Héracles. Por outro lado na mitologia grega não há qualquer referência a um combate de Orionte com um Touro enquanto que no céu o gigante o parece enfrentar. Já Héracles, num dos seus 12 épicos trabalhos, terá tido esse combate.

Os primitivos árabes chamavam a esta zona do céu Al Jauzah, nome que correspondia a uma ovelha negra com uma mancha branca a meio do corpo. Mais tarde adoptaram a figuração celeste originária da Grécia. No caso de Orionte, a quem Ptolomeu chamava Gigas, o Gigante, traduziram esta palavra como Al Jabbar. Com o passar do tempo os dois nomes, Jauzah e Jabbar, acabaram por ser confundidos.

As principais estrelas de Orionte

 
Classificação
Bayer
Letra
grega
Nome
próprio
Magnitude
aparente
Classe
espectral
Distância
anos-luz
Luminosidade
Sol = 1
 
Alfa α Betelgeuse 0,57 M0 430 9 400
Beta β Rigel 0,28 B8 770 40 000
Gama γ Belatrix 1,66 B2 243 1 020
Delta δ Mintaka 2,23 B0 920 8 300
Épsilon ε Alnilam 1,72 B0 1340 30 000
Zeta ζ Alnitak 1,90 B0 820 10 500
Eta η
3,39 B1 900 2 900
Teta 2 * θ 2
4,91 B1 1 900 2 900
Iota ι Nair al Saif 2,78 O 1330 10 900
Capa κ Saiph 2,06 B0 720 6 000
Lambda λ Meissa 3,55 O 1060 3 800
Pi 3 π 3 Tabit 3,19 F8 26 2,84
 
* Faz parte do Trapézio. As distâncias, tal como a luminosidade das estrelas do Trapézio têm grande margem de insegurança.


Um esquema moderno da constelação. Crédito: António Magalhães.
O nome da Alfa de Orionte, Betelgeuse, tem origem no árabe Ibt al Jauzah, (o ombro do gigante).

Beta é Rigel, que provém de Rijl Jauzah al Yusra, a perna esquerda do gigante.

Para os árabes Gama era Al Najid, o Conquistador. Numa estranha tradução feita nas Tabelas Afonsinas, passou a ser Belatrix, a Guerreira.

Delta tem o nome Mintaka que provém directamente de Al Mintakah, o Cinto.

Alnilam (Épsilon) deriva de Al Nitham, o Colar de Pérolas.

A última componente do cinturão de Orionte, Zeta era chamada Al Nitak, a Cintura, donde resultou a designação actual: Alnitak.

Eta não tem nome entre nós, mas era para os árabes Saif al Jabbar, a Espada do Gigante.

Iota foi baptizada por Al Tizini como Al Nair al Saif, a Mais Brilhante da Espada.

Capa recebeu o seu nome, Saif, directamente do árabe Al Saif, a Espada.

A designação de Lambda terá resultado dum erro. O nome Al Maisan era aplicado a Gama dos Gémeos, mas foi aplicado por engano à estrela de Orionte e assim ficou sob a forma de Meissa.

Thabit em árabe significa Tolerante. Mas acabou por ser aceite como a designação duma das estrelas Pi.