Prólogo



Um esquema moderno da constelação. Crédito: António Magalhães.
Todos estaremos de acordo em que o nosso céu está cheio de belezas extraordinárias e que há constelações magníficas. Mas, sem querer menosprezar as outras, de todas a que mais me encanta é sem dúvida a maravilhosa constelação de Orionte. A sua beleza prende-nos de tal forma o olhar que a sua contemplação convida mais ao silêncio do que a uma dissertação sobre um qualquer tema relacionado com ela.

Não é por um simples capricho da natureza que nesta região do céu se encontra um número significativo de estrelas de grande brilho e coloração azulada. Estamos perante um aglomerado de estrelas das classes mais quentes, como outros que existem no céu e genericamente designados por OB. Mas o aglomerado de Orionte tem a vantagem de estar mais acessível para um observador no Sistema Solar. E, num futuro distante, essa aglomeração de estrelas terá decerto muito mais para ver. De facto, se muitas das que hoje são estrelas quentes e por isso têm coloração azulada, no seio da Nebulosa de Orionte (M42 e M43) estão em gestação muitas novas estrelas. Ou seja, quando as estrelas quentes como Rigel se tornarem em gigantes vermelhas, frias mas belíssimas, novas estrelas de todas as cores terão entretanto surgido.

É verdade que no Inverno são muitas as noites em que o céu não está acessível devido às nuvens. Em compensação, as noites frias são em geral as melhores para a observação celeste, em especial depois de ter chovido, pois o ar está mais límpido e há menos turbulência atmosférica. Como é precisamente no Inverno que Orionte está acessível ao princípio da noite para os observadores do hemisfério setentrional, ficam assim criadas as condições para um maior prazer na sua apreciação.

Mas há um factor acessório. Em volta da constelação que representa o gigante caçador, há uma vasta moldura de estrelas de brilho considerável, entre as quais merecem destaque as do Cão Maior, cuja alfa, Sírio, é nada mais, nada menos do que a estrela mais brilhante de todo o céu nocturno. Mas também nas suas vizinhanças podemos ver Prócion (alfa do Cão Menor), Castor e Pólux, respectivamente alfa e beta dos Gémeos, o Touro com a sua alfa, Aldebarã, e os seus encantadores enxames estelares das Híades e das Plêiades. Sem esquecer o Cocheiro com a sua alfa, Capela, que apesar de mais distante, não deixa de compor a moldura.

O quadro acima pode tornar-se ainda mais magnífico se for possível viajar mais para sul. De facto, a partir de um local no hemisfério sul, ainda é possível acrescentar a esse quadro a segunda estrela da lista das de maior brilho de todo o céu nocturno, Canopo, e muitas das que antigamente faziam parte do Navio.

Mas mesmo sem pensar nas que envolvem Orionte, a constelação tem muito para ver. Na verdade, outro aspecto fascinante de Orionte é que, numa mesma constelação, temos ao nosso dispor estrelas de elevada temperatura, como Rigel e as «Três Marias» (Mintaka, Alnilam e Alnitak) e uma estrela de temperatura superficial muito baixa, Betelgeuse. Aliás, numa observação atenta e em local adequado, a coloração avermelhada de Betelgeuse contrasta de forma evidente com a cor azulada de Rigel e das três mais marcantes do cinturão.

Mas os encantos de Orionte não ficam por aqui. Mesmo à vista desarmada, se o local e as condições forem os mais adequados, é possível ver a famosa nebulosa de Orionte (M42 e M43). Claro que com a ajuda de um instrumento, mesmo que modesto, a observação é muito mais espectacular.

Nas próximas semanas serão referidos aspectos relacionados com a origem dos nomes da constelação e das suas estrelas mais marcantes, assim como a mitologia grega associada à constelação.