Eclipses lunares


Depois de termos aflorado a mecânica que permite a ocorrência dos eclipses, esta semana vamos ver mais em detalhe como ocorre um eclipse lunar.

Como abordámos anteriormente, é necessário haver um alinhamento correcto entre a Terra, a Lua e o Sol para que possamos testemunhar a ocorrência de um eclipse. Torna-se igualmente necessário para este efeito que tanto a Terra como a Lua estejam posicionadas na linha dos nodos. Se assim acontecer temos reunidas as condições necessárias para a ocorrência de um eclipse. Se todo este alinhamento especial acontecer quando a Terra está entre o Sol e a Lua, observando-se a fase lunar de Lua cheia, acontece um eclipse lunar total que pode ser acompanhado por todos os observadores posicionados num mesmo hemisfério da Terra em que seja noite.

Se o posicionamento da Lua ou da Terra não for exactamente na linha dos nodos, desde que não haja um desvio muito significativo, deixaremos de ter a possibilidade de observar um eclipse lunar total, podendo observar um eclipse parcial ou penumbral. Temos então três tipos possíveis de eclipses lunares: totais, parciais e penumbrais.


Créditos: Manchu / Ciel et Espace e Association française d\'astronomie, reproduzidas de HADDAD, Leila e CIROU, Alain, (1999), Soleil Noir - Le livre des éclipses, 1.ª ed., Seuil-AFA.
Como podemos observar na figura ao lado, quando a trajectória da Lua apenas mergulha na penumbra da Terra, o seu escurecimento é apenas mínimo, não se chegando a verificar a ocultação completa da Lua. Se a trajectória da Lua atravessar parcialmente a penumbra e a sombra da Terra, observamos um eclipse parcial da Lua, em que apenas uma parte desta fica escurecida pela sombra da Terra. Na situação que resta, temos a trajectória da Lua a atravessar plenamente, quer a penumbra quer a sombra da Terra. Neste caso acontece um bonito eclipse lunar que, geralmente e ao contrário do que se possa pensar de imediato e apear de haver um escurecimento significativo da superfície lunar visível, muito raramente se chega verdadeiramente a deixar de ver o disco lunar. Na maioria das vezes, durante o período em que a Lua passa no cone de sombra da Terra, a Lua adquire uma coloração muito bonita que pode variar de um tom amarelo-escuro a um vermelho-alaranjado bastante vivo, ou mesmo a uma cor de cobre.

Porque se torna visível e colorida a Lua quando era suposto esta estar às escuras? A resposta é dada pela refracção da luz solar na atmosfera terrestre. Quando observamos os momentos finais do pôr do Sol podemos notar uma infinidade de diferentes tonalidades, ou mesmo continuar a ver a sua luz quando o Sol já desceu um pouco abaixo da linha do horizonte. Este efeito provocado pela refracção da luz nas diferentes camadas da atmosfera prolonga-se no espaço e, caso a Lua fique na direcção da luz projectada, torna-se possível ver o efeito da refracção (figura em baixo).



O eclipse lunar total de 28 de Outubro de 2004. Créditos: Plácido dos Inocentes, Mário Ramos, José Rola, João Gregório e Paulo Barros.


As diferentes tonalidades que podem ser observadas num eclipse lunar demonstram o estado de saturação da nossa atmosfera com poeiras provenientes de actividade vulcânica recente ou de fenómenos meteorológicos de grande dimensão. Quanto maior for a quantidade de poeiras existentes na atmosfera, mais escuro será o eclipse e a coloração da Lua.

Ao contrário dos eclipses solares, de que falaremos na próxima semana, não são necessários quaisquer cuidados especiais para se observar um eclipse lunar, bastando para o efeito observá-lo a olho nu, ou com binóculos ou telescópios que permitem obter uma visão mais pormenorizada da beleza que encerram estes fenómenos.

Se quiser observar estes momentos de extrema beleza terá de esperar pelo próximo eclipse lunar total visível na Europa e que ocorrerá no dia 3 de Março de 2007, com início às 20h 17m (UT), o máximo de eclipse a ocorrer às 23h 21m e a fase de totalidade a durar cerca de 1h 14m.