A mecânica dos eclipses



Créditos: Manchu / Ciel et Espace e Association française d'astronomie, reproduzidas de HADDAD, Leila e CIROU, Alain, (1999), Soleil Noir - Le livre des éclipses, 1.ª ed., Seuil-AFA.
Para percebermos a razão pela qual acontecem eclipses, temos de compreender um pouco da sua mecânica. À primeira vista, um eclipse resume-se à interposição da Lua entre a Terra e o Sol (eclipse solar) ou à interposição da Terra entre a Lua e o Sol (eclipse lunar). Na prática não é assim tão simples. Um extraordinário acaso e alinhamentos complexos estão na base da ocorrência dos eclipses. Comecemos por tentar compreender as particularidades do conjunto Sol-Terra-Lua.

Como todos sabemos, o nosso planeta desenvolve em torno do Sol uma órbita elíptica de 365,26 dias (o movimento de translação). Por sua vez, a Lua gira em torno da Terra, completando o seu período sinódico (de Lua nova a Lua nova), a cada 29,5 dias. Neste movimento, a Lua passa entre o Sol e a Terra (Lua nova) e, cerca de quinze dias depois, no ponto diametralmente oposto (Lua cheia), a Terra fica entre o Sol e a Lua. Como este ciclo se repete todos os meses, seria legítimo pensar que todas as fases de Lua nova produzissem um eclipse solar assim como em todas as fases de Lua cheia deveria ocorrer um eclipse lunar (fig. 1).


Créditos: Manchu / Ciel et Espace e Association française d'astronomie, reproduzidas de HADDAD, Leila e CIROU, Alain, (1999), Soleil Noir - Le livre des éclipses, 1.ª ed., Seuil-AFA.
Estaria correcto se as órbitas da Lua e da Terra fossem co-planares, isto é, se ambas as órbitas se desenvolvessem exactamente no mesmo plano. Acontece que o plano orbital da Lua possui, relativamente ao plano da órbita terrestre (a eclíptica), uma inclinação cerca de 5º, o que faz que em cada metade do seu período orbital, a Lua esteja acima ou abaixo da eclíptica, não sendo assim possível obter um alinhamento correcto entre o Sol, a Terra e a Lua (fig. 2).

Apenas em dois pontos específicos e diametralmente opostos, onde os planos das duas órbitas se intersectam, estão reunidas as condições de alinhamento entre os três corpos, capazes de originar eclipses. Estes dois pontos, designam-se por nodos. No entanto, para que se verifique um eclipse, torna-se necessário que, quando a Lua passa por um dos nodos, se encontre na fase de Lua cheia ou de Lua nova, o que obviamente reduz drasticamente a regularidade destes fenómenos (fig. 3). O ponto em que o plano da órbita lunar intersecta o plano da órbita da Terra em direcção a norte designa-se por nodo ascendente, chamando-se nodo descendente ao ponto em que as órbitas se cruzam e a Lua se desloca para sul do plano orbital da Terra.


Créditos: Manchu / Ciel et Espace e Association française d'astronomie, reproduzidas de HADDAD, Leila e CIROU, Alain, (1999), Soleil Noir - Le livre des éclipses, 1.ª ed., Seuil-AFA.
Se o plano orbital da Lua se mantivesse constante e inalterado, existiria uma coincidência da linha dos nodos com o alinhamento da Terra e do Sol exactamente duas vezes em cada ano. Mas como gostamos de complicar estas coisas, a linha dos nodos, por efeito das forças gravitacionais, desloca-se lentamente, fazendo com que os alinhamentos se verifiquem em cada 173 dias. Os eclipses surgem assim em ritmos cíclicos, tal como vimos na semana anterior quando referimos o ciclo de Saros.

Nas próximas duas semanas analisaremos de forma mais detalhada as especificidades dos eclipses lunares e dos eclipses solares.