Meteoros, Meteoritos e Meteoróides



Representação artística do meteoro de Sikhote-Alin na Sibéria, no século passado, que deu origem a uma gigantesca "chuva" de meteoritos metálicos
Uma noite escura e sem Lua. Os últimos reflexos do Sol poente já desapareceram. As estrelas cintilam na abóbada celeste, reina um silêncio e tudo parece dormir na paz da noite, onde só uma ligeira brisa agita as folhas das árvores. De repente, surge um clarão vivo e tremente. Uma bola de fogo atravessa o céu no meio de faíscas. Tão depressa surgiu, a bola ígnea extingue-se antes de ter chegado ao horizonte, enquanto tudo mergulha novamente nas trevas. Já todos tiveram ocasião de observar este fenómeno que corresponde ao que popularmente se designa de “estrela cadente”. Os astrónomos chamam-lhe meteoro, o fenómeno luminoso resultante da entrada de uma partícula, por vezes não maior que um grão de areia, na atmosfera terrestre.

Por vezes, estes meteoros ocorrem em correntes periódicas, como a que em meados de Novembro poderá ser observada e que tem o nome de Leónidas. Objectos maiores, os bólides, resistem ao calor da fricção e conseguem chegar até à superfície da Terra: são os meteoritos, rochas peculiares que podem ser observadas nas colecções dos museus de História Natural.

O espaço interplanetário está cheio destas partículas rochosas – os meteoróides – cujo estudo químico e mineralógico constitui a chave para a compreensão da origem do sistema solar. Muitos meteoritos, os mais primitivos, como os condritos carbonáceos, contêm inclusões refractárias de minerais formados antes do sistema solar existir, minerais com isótopos que nos permitem identificar as fontes estelares que contaminaram a nébula que veio dar origem ao Sol, aos planetas, aos satélites, cometas, asteróides e meteoróides que formam o Sistema Solar.

Também muitos destes meteoritos contêm matéria orgânica abiótica, formada na ausência da vida, que nos dá preciosas informações sobre de como a própria vida surgiu, um problema que merece ser encarado numa perspectiva cósmica, química e geológica – o tema nuclear da nova disciplina da Astrobiologia.

Mais interessante ainda, alguns desses grandes meteoritos – autênticos asteróides e ou cometas – colidiram ao longo da história da Terra com o nosso planeta, tendo tido influência no ambiente global, levando a modificações climáticas e geológicas que causaram à extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos. Por tudo isto, o estudo dos meteoros, meteoritos e meteoróides, constitui uma área multidisciplinar da ciência de hoje, bem próximo da fronteira das Ciências da Terra, da Vida e do Espaço.

Ao longo das próximas semanas vamos apresentar os seguintes temas:


Autoria:

José Fernando Monteiro
Departamento de Geologia
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa