Influxo de gás quente interrompeu a formação de estrelas em NGC 3226

2014-12-09

Uma nova característica na evolução das galáxias foi capturado nesta imagem de interacções galácticas. Crédito: NASA/CFHT/NRAO/JPL-Caltech/Duc/Cuillandre.
O ambiente cósmico ideal para criação de novas estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
é frio. Um novo estudo indica que uma onda de gás quente, oriunda da destruição de uma galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
vizinha, penetrou numa galáxia próxima e extinguiu a formação de estrelas, ao agitar o gás frio disponível.

Esta descoberta única, feita com a ajuda do observatório espacial Herschel e dos telescópios espaciais Spitzer e Hubble, é muito importante para o estudo da evolução galáctica.

Os astrónomos procuram saber por que razão as galáxias no Universo local se dividem em duas grandes categorias: galáxias espirais, jovens, com formação de estrelas (como a nossa Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
), e galáxias elípticas, mais velhas, nas quais a formação de estrelas cessou. A galáxia do estudo, NGC 3226, ocupa uma posição intermédia, de transição, entre os dois grupos, pelo que se torna muito importante a caracterização da sua formação estelar.

"Explorámos o fantástico potencial dos grandes arquivos de dados do Hubble, do Spitzer e do Herschel para obtermos a imagem de uma galáxia elíptica que passou por grandes transformações no seu passado recente, devido a colisões violentas com galáxias vizinhas", afirmou Philip Appleton, cientista de projecto para o Centro de Ciências do Herschel, da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena, e principal autor do artigo detalhando os resultados, publicado no Astrophysical Journal. "Estas colisões estão a modificar não só a estrutura e a cor da galáxia, mas também a condição do gás residente, tornando neste momento difícil a formação de muitas estrelas."

NGC 3226 está relativamente próxima, a apenas 50 milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de distância. Vários laços gasosos repletos de estrelas emanam desta galáxia e há filamentos que se estendem entre ela e a galáxia espiral companheira, NGC 3227. Estas correntes de material sugerem que provavelmente terá existido ali uma terceira galáxia, até há pouco tempo, isto é, até NGC 3226 a ter engolido, espalhando pedaços da galáxia destroçada por toda a região.

Uma parte importante do remanescente mede cerca de 100 mil anos-luz e estende-se até ao núcleo de NGC 3226. Esta longa cauda termina, como uma pluma curva, num disco de hidrogénio gasoso quente e num anel de poeira. O seu conteúdo está a cair sobre NGC 3226, devido à gravidade.

Em muitos casos, este processo de adição de matéria às galáxias rejuvenesce-as, desencadeando novos episódios de nascimento de estrelas, graças ao gás e à poeira gelificados. No entanto, os dados dos três telescópios estão de acordo em relação ao facto de NGC 3226 ter uma taxa muito baixa de formação de estrelas. Parece que, neste caso, o material que cai sobre NGC 3226 vai aquecendo, à medida que colide com outro gás e poeira galácticos, extinguindo a formação de estrelas em vez de a alimentar.

O resultado poderia ter sido diferente, já que NGC 3226 abriga um buraco negro
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
de grande massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
no seu centro. O fluxo de gás e poeira poderia ter acabado por alimentar apenas o buraco negro, desencadeando explosões de grande energia à medida que o material fosse caindo em espiral em direcção ao abismo. Em vez disso, o buraco negro no núcleo de NGC 3226 parece apenas petiscar o material que se espalhou pela região central da galáxia.

"Estamos a descobrir que o gás não sofreu um simples afunilamento em direcção ao centro da galáxia para alimentar o gigantesco buraco negro que lá se encontra", disse Appleton. "em vez disso, ficou aprisionado num disco quente, cessando a formação de estrelas e frustrando, provavelmente, o crescimento do buraco negro devido à sua actual turbulência."

NGC 3226 está a meio caminho entre as galáxia jovens, azuis, e as velhas, vermelhas. As cores referem-se à luz galáctica predominantemente irradiada pelas estrelas: a luz azul é emitida pelas estrelas jovens e gigantes - um sinal revelador de formação estelar recente - e a luz avermelhada é emitida pelas estrelas mais maduras.

Esta galáxia intermédia revela como as galáxias deste tipo podem tanto formar novas estrelas como ter as suas fábricas estelares fechadas, pelo menos temporariamente. É que à medida que o gás quente do influxo for arrefecendo para temperaturas próprias da formação estrelar, NGC 3226 deverá ganhar um novo fôlego.

Curiosamente, observações realizadas em luz ultravioleta
ultravioleta
O ultravioleta á a banda do espectro electromagnético que cobre a gama de comprimentos de onda entre os 91,2 e os 350 nanómetros. Esta radiação é largamente bloqueada pela atmosfera terrestre.
e no óptico sugerem que NGC 3226 terá produzido mais estrelas no passado, o que a levou até à sua actual cor intermédia, algures entre o vermelho e o azul. O novo estudo indica que os traços mais persistentes de juventude se devem efectivamente a níveis mais elevados de formação de estrelas, antes do influxo de gás ter alterado o cenário.

"NGC 3226 vai continuar a evoluir e poderá produzir no futuro novas estrelas em abundância", disse Appleton. "Estamos a aprender que a evolução das galáxias de aparência jovem para as de aparência velha pode não ser um fenómeno de sentido único, mas com dois sentidos."

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/jpl/spitzer/warm-gas-pours-cold-water-galaxys-star-making/