Cometa choca com uma ejecção de massa coronal

2007-10-04

Sequência de 3 imagens obtidas pela STEREO que mostram o cometa Encke a chocar com uma ejecção de massa coronal. Note-se a cauda do cometa a separar-se do núcleo. Crédito: NASA.
Os cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
são restos gelados da formação do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
. A maioria encontra-se a grandes distâncias do centro do Sistema Solar, ocasionalmente aproximando-se devido a um encontro próximo com um planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
ou outro cometa. À medida que se aproximam do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
o calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
e a radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
vaporiza o gelo e a poeira do cometa, formando uma cauda. Na verdade, formam-se duas caudas: uma de poeira e outra, menos brilhante, de plasma
plasma
O plasma é um gás completamente ionizado, em que a temperatura é demasiado elevada para que os átomos existam como tal, sendo composto por electrões e núcleos atómicos livres. É chamado o quarto estado da matéria, para além do sólido, líquido e gasoso.
.

As ejecções de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
coronal são gigantescas nuvens de gás magnetizado que o Sol ejecta para o espaço. Trata-se de erupções violentas com vários milhares de milhões de toneladas
tonelada (t)
A tonelada (t) é uma unidade de massa equivalente a 1000 kg.
de massa a ser lançada para cima, com velocidades até 3000 km/s. As ejecções de matéria coronal são famosas por provocarem tempestades geomagnéticas que podem afectar os nossos satélites e telecomunicações.

Em Abril de 2007, o cometa Encke encontrava-se próximo da órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Mercúrio
Mercúrio
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. É o mais pequeno dos planetas rochosos, com um diâmetro cerca de 40% menor do que o da Terra.
quando uma ejecção de massa coronal atingiu a sua cauda e a arrancou. A sonda STEREO-A, da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, conseguiu observar o acontecimento com a sua câmara HI (Heliospheric Imager), que possui a capacidade de obter séries de imagens com bastante rapidez.

Os cientistas já suspeitavam que as ejecções de massa coronal podiam ser responsáveis pela desagregação da cauda de certos cometas, mas nunca se tinha observado directamente a acção de uma ejecção de massa coronal num cometa.

A análise preliminar sugere que a cauda foi arrancada quando o campo magnético
campo magnético
O campo magnético é a região em torno de um corpo na qual é detectada uma força magnética. Os campos magnéticos actuam apenas em partículas electricamente carregadas. Campos magnéticos fracos são por exemplo gerados por efeito de dínamo no interior dos planetas e luas, enquanto que campos magnéticos mil milhões de vezes mais fortes podem ser gerados em estrelas e galáxias. Os campos magnéticos são capazes de controlar o movimento de gás ionizado e até moldar a forma dos corpos por eles actuados.
à volta do cometa colidiu com o campo magnético da massa coronal levando a um realinhamento das linhas dos campos - o fenómeno é chamado de reconexão magnética
reconexão magnética
A reconexão magnética é um processo físico fundamental que ocorre em plasmas magnetizados em torno da Terra, do Sol e das outras estrelas, e ainda em reactores de fusão. Este processo modifica a topologia dos campos magnéticos através do rompimento e da reconexão das linhas de força. Ao fazê-lo, a energia magnética pode ser convertida noutros tipos de energia, como por exemplo energia cinética, calor, ou luz.
e liberta uma enorme quantidade de energia, que terá causado a disjunção da cauda do cometa. O processo é semelhante ao que acontece na magnetosfera
magnetosfera
Magnetosfera é a região em torno de um objecto celeste ocupada pelo seu campo magnético.
terrestre durante as tempestades geomagnéticas e que produz, entre outros fenómenos, as auroras
aurora
A aurora é a luz emitida pelos iões da atmosfera terrestre, principalmente nos pólos geomagnéticos da Terra, estimulada pelo bombardeamento de partículas de alta energia ejectadas pelo Sol. As auroras aparecem dois dias depois das fulgurações solares, proporcionando um espectáculo de rara beleza, e atingem o seu pico cerca de dois anos depois do máximo de manchas solares. As auroras boreais e austrais são observáveis a latitudes elevadas no hemisfério Norte e hemisfério Sul, respectivamente.
boreais.

O cometa Encke (com nome oficial de 2P/Encke) foi o segundo cometa periódico
cometa de curto período
Designam-se por cometas de curto período aqueles cujo período orbital é inferior a 200 anos.
a ser descoberto, depois do cometa Halley
Cometa Halley
O Cometa Halley é o cometa periódico mais conhecido, com um período orbital de 76,1 anos. Os primeiros registos deste cometa remontam a 240 AC e a sua órbita foi calculada por Edmund Halley em 1704, com base nas leis de Newton. O seu regresso ao Sistema Solar interior em 1986 permitiu estudá-lo pormenorizadamente: o seu núcleo mede cerca de 16x8 km, reflecte apenas cerca de 4% da luz solar, roda sobre si mesmo em 3,7 dias e é composto por 45% de gelo de água, 28% de minerais e 27% de material orgânico.
. Johann Franz Encke estudou a sua órbita detalhadamente em 1786, 1795, 1805 e 1818, determinando que se tratava sempre do mesmo objecto e previu (correctamente) o seu regresso em 1822.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/mission_pages/stereo/news/encke.html
Filme das observações: http://www.nasa.gov/mpg/191092main_EnckeFieldLines.mpg