A maioria das estrelas não se encontra em sistemas múltiplos

2006-02-17

Gráfico que mostra a distribuição da percentagem de estrelas singulares por tipo espectral. O Sol é uma estrela do tipo G. As estrelas do tipo M constituem a população estelar mais numerosa da nossa Galáxia. Crédito: C. Lada 2006.
Num estudo recente, Charles Lada (Centro Smithsonian para a Astrofísica, EUA) conclui que, ao contrário do que é frequentemente tido como um facto, a maioria das estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
da nossa Galáxia
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
não se encontra em sistemas múltiplos. Este resultado vem do estudo de estrelas de menor massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
, menos luminosas, que são em maior número do que as estrelas de maior massa.

Os astrónomos sabem, há muito, que a maioria das estrelas brilhantes, com massa igual ou superior à do nosso Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, não se encontram sozinhas mas antes em sistemas múltiplos. Para estrelas do tipo O e B, que possuem massas consideráveis, pensa-se que cerca de 80% são sistemas múltiplos. Mas estas estrelas, que são muito brilhantes, são raras comparativamente a estrelas de menor massa. Por sua vez, o estudo de estrelas do tipo do Sol tem revelado que pouco mais de 50% destes sistemas são múltiplos.

Quando se trata de estrelas de menor massa – estrelas do tipo M, chamadas anãs vermelhas – a percentagem de sistemas múltiplos baixa para cerca de 25%. Ora, cerca de 85% de todas as estrelas da nossa Galáxia são anãs vermelhas, o que leva a concluir que mais de dois terços de todos os sistemas estelares da nossa Galáxia são compostos por estrelas singulares e não múltiplas.

O resultado da elevada frequência
frequência
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
de estrelas singulares na nossa Galáxia pode ter importantes consequências para a teoria de formação de estrelas e planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. Por exemplo, pode contrariar o paradigma actual, que aceita que a maioria, ou mesmo todas as estrelas, se formam em sistemas binários ou múltiplos. Claro que há que considerar a hipótese da maioria das estrelas se formar em sistemas múltiplos, desde que existam mecanismos que desintegrem esses sistemas, por exemplo, interacções dinâmicas com outros sistemas, ou decaimentos nos estágios iniciais de evolução. Mas os mecanismos têm de ser muito eficientes, pois têm de produzir a elevada percentagem de estrelas singulares que se verifica. O facto da multiplicidade de estrelas ser função da massa estelar pode ajudar a compreender o processo físico da formação estelar.

Outra implicação deste estudo é a abundância de planetas poder ser maior do que se pensava. Os discos de poeira à volta de estrelas singulares estão menos sujeitos a rupturas devido a forças gravitacionais e por isso é mais provável que formem planetas. Já se descobriram planetas em sistemas binários, mas as suas órbitas
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
são muito distantes das estrelas, ou então, só orbitam um dos membros do sistema. As estrelas anãs
estrela anã
Uma estrela anã, também dita estrela da sequência principal, é uma estrela não evoluída, que ainda se encontra na fase de fusão do hidrogénio em hélio, no seu núcleo.
vermelhas, sendo na sua maioria singulares, podem proporcionar um bom alvo para a caça de planetas extra-solares
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
. São particularmente interessantes porque a zona habitável
Zona Habitável
A zona habitável de uma estrela ou de um sistema solar é a região, definida em termos da distância à estrela, que é compatível com a existência de água no estado líquido na superfície de um planeta aí colocado.
para estas estrelas – região onde um planeta teria a temperatura adequada para possuir água líquida – é próxima da estrela. E os planetas mais próximos das estrelas são mais fáceis de se descobrir, com os actuais métodos de detecção.

Fonte da notícia: http://cfa-www.harvard.edu/press/pr0611.html