Descoberto exoplaneta mais parecido com a Terra

2006-01-27

Curva de luz do evento de microlente gravitacional OGLE-2005-BLG-390Lb que levou à descoberta do novo exoplaneta. O efeito do planeta à volta da estrela que faz de microlente é visível no zoom, onde se vê claramente o desvio provocado pelo planeta. Crédito: ESO.
A descoberta de um novo planeta extra-solar
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
foi acolhida com grande entusiasmo, pois trata-se de um exoplaneta significativamente mais parecido com a Terra do que qualquer outro até agora descoberto: é o exoplaneta de menor massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
e mais frio, a orbitar uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
normal, que se conhece.

Designado por OGLE-2005-BLG-390Lb, o exoplaneta tem apenas 5,5 vezes a massa da Terra e orbita a sua estrela em aproximadamente 10 anos, a uma distância de 390 milhões de quilómetros, o que equivale, no nosso Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, a situar-se entre Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
e Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
. A estrela que ele orbita é uma anã vermelha, com uma massa cinco vezes inferior à massa do Sol
massa solar
Massa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
, que se encontra a 20 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de nós, perto do centro da Galáxia
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
.

Como a estrela que orbita é relativamente fria e a sua órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
bastante larga, a temperatura da sua superfície deverá ser cerca de -220°C, ou seja, demasiado fria para possuir água líquida. É provável que possua uma atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
fina, como a Terra, mas a sua superfície rochosa está provavelmente enterrada debaixo de oceanos gelados. Poderá por isso assemelhar-se mais a um versão de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
com mais massa, do que aos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
rochosos do nosso Sistema Solar.

Quase todos os exoplanetas conhecidos, que já são mais do que 170, foram descobertos pelo método da velocidade radial. Esse método favorece a detecção de planetas de massa elevada a orbitarem muito próximo as suas estrelas, e ainda não é capaz de encontrar planetas com a massa da Terra, a cerca de 150 milhões de quilómetros de uma estrela normal.

O novo exoplaneta foi descoberto num programa de microlentes gravitacionais
efeito de microlente gravitacional
O efeito de microlente gravitacional é um caso particular do efeito de lente gravitacional - a deflexão da luz provocada pelo campo gravitacional de um objecto com massa que se encontra entre o observador e a fonte de luz. Chama-se microlente gravitacional quando não há distorção na imagem da fonte de luz, mas esta aumenta o seu brilho. Por exemplo, se uma pequena estrela próxima de nós passar exactamente entre nós e uma outra estrela mais distante, o campo gravitacional da estrela mais próxima actua como uma microlente e foca a luz da estrela mais distante, aumentando o seu brilho.
. As lentes gravitacionais
efeito de lente gravitacional
O efeito de lente gravitacional consiste na deflexão da luz provocada pelo campo gravitacional muito forte de um objecto que se encontra entre o observador e a fonte de luz. Por exemplo, uma galáxia, ou um enxame de galáxias, que se encontre entre nós e um objecto astronómico muito distante, como um quasar, pode actuar como uma lente gravitacional. Tipicamente, o efeito de lente gravitacional faz com que se observe, numa única fotografia, mais do que uma imagem do mesmo objecto.
são constituídas por objectos com massa significativa e cujo efeito gravitacional afecta a luz de uma fonte que esteja alinhada com o objecto, mas mais distante. No caso de microlentes gravitacionais, o objecto mais próximo é uma estrela, que serve de lente natural e aumenta o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
de uma estrela mais brilhante.

A descoberta de exoplanetas utilizando microlentes gravitacionais baseia-se no efeito que a existência de um planeta à volta da estrela mais próxima, que faz de lente, tem na curva de luz da estrela distante.

Por este método, a detecção de um exoplaneta e a sua caracterização implicam uma monitorização de eventos de microlentes gravitacionais quase contínua, e de grande precisão. Isto só é possível graças a extensos programas de procura de microlentes gravitacionais que se baseiam em colaborações entre diferentes observatórios, de diversos países, espalhados por todo o globo. Neste caso, três programas contribuíram para a descoberta: o OGLE ( Optical Gravitational Lensing Experiment), o MOA (Microlensing Observations in Astrophysics) o PLANET.

A detecção do novo exoplaneta começou com a descoberta de um evento de microlente gravitacional pela equipa do OGLE em 11 de Julho de 2005. Tomado conhecimento deste evento, a rede de telescópios PLANET deu início à recolha de dados que monitoriza o evento. A sua curva de luz era consistente com uma microlente constituída por uma estrela isolada, até que, a 10 de Agosto, um membro do PLANET, Pascal Fouqué, notou um desvio planetário. As observações recolhidas pelo OGLE nessa mesma noite mostraram o mesmo desvio e, mais tarde, as observações do MOA confirmaram os resultados.

Até agora, nenhuma outra interpretação, que não a de um planeta com os referidos parâmetros, surgiu para explicar os dados observacionais.

OGLE-2005-BLG-390Lb é apenas o terceiro exoplaneta a ser detectado por este método e no entanto é um planeta de pouco massa (compare-se com os planetas descobertos pelo método das velocidades radias). Esta descoberta vem assim alimentar a teoria, que diz que os planetas com massa inferior à de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
são mais comuns que os planetas gigantes gasosos
planeta joviano
Designam-se por planetas jovianos aqueles que se assemelham a Júpiter, ou seja, planetas gigantes com superfícies gasosas. No Sistema Solar, são planetas jovianos Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno.
(tipo Júpiter).

A descoberta deste novo exoplaneta foi publicada na revista científica Nature, de 26 de Janeiro.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2006/pr-03-06.html