Deep Impact colidirá com o cometa Tempel 1

2005-07-01

Em cima: à esquerda, imagem de Tempel 1, obtida pelo instrumento de média resolução, a bordo da nave principal da Deep Impact; à direita, espectros obtidos com o instrumento de alta resoulção a bordo da nave principal. Crédito: NASA/JPL-Caltech/UMD. Em baixo: à esquerda, esta imagem obtida pelo Hubble, a 14 de Junho, mostra uma explosão no Tempel 1. Crédito: NASA, ESA, P. Feldman (Johns Hopkins University), and H. Weaver (Johns Hopkins University/Applied Physics Lab). À direita, primeira imagem do Tempel 1 obtida pela Rosetta, a 28 de Junho; o cometa é o objecto em baixo e à esquerda, que parece desfocado. Crédito: ESA.
A Deep Impact é uma missão da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
no âmbito do programa Discovery, e será a primeira missão espacial a perscrutar abaixo da superfície de um cometa
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
e a revelar os segredos do seu interior. Lançada a 12 de Janeiro deste ano (ver notícia de 17/01/2005), a Deep Impact é constituída por uma nave principal e um impactor. Este último, com uma massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
de 370 kg, será lançado no dia 3 de Julho numa trajectória que o levará a colidir com o cometa Tempel 1 vinte e quatro horas depois, no dia 4 de Julho, pelas 6h50 da manhã (hora de Lisboa).

O impactor colidirá a uma velocidade de aproximação de 37000 km/h. Prevê-se que o impacto produza uma cratera de grandes dimensões, com cerca de 100 m de diâmetro e 25 m de profundidade. Ao formar a cratera com o impacto, gelo e poeira serão ejectados da superfície, deixando à mostra o material mais profundo. Uma câmara no impactor capturará e enviar-nos-á imagens do núcleo do cometa
núcleo de um cometa
O núcleo de um cometa é a parte sólida e gelada, localizada no centro da cabeça do cometa e é constituído por poeiras e gases gelados. O diâmetro dos núcleos cometários tem tipicamente entre 10 e 20 km.
até segundos antes da colisão.

Após o lançamento do impactor, a nave principal tomará uma órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
que chega a 500 km do cometa Tempel 1. A bordo, dois telescópios observarão a aproximação do impactor ao cometa, a colisão, o material ejectado da cratera e a estrutura e composição do interior da cratera formada pelo impacto. Um instrumento de alta resolução, associado a um telescópio de 30 cm, poderá obter espectros e imagens, enquanto um instrumento de média resolução, associado a um telescópio de 12 cm, registará apenas imagens.

Além da Deep Impact, outros telescópios estarão observando o evento. No espaço, o Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
), o Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
(NASA), o Observatório de Raios-X Chandra
Chandra X-ray Observatory
O observatório de raios-X Chandra, lançado em 1999, faz parte do projecto dos Grandes Observatórios Espaciais da NASA. O seu nome homenageia Subrahmanyan Chandrasekhar, Prémio Nobel da Física em 1983. O Chandra detecta fontes de raios-X a milhares de milhões de anos-luz de nós. Observar em raios-X é a única forma de observar matéria muito quente, a milhões de graus Célsius. O Chandra detecta raios-X de regiões de alta energia, como por exemplo remanescentes de supernovas.
(NASA), o Swift
Swift Gamma-ray Burst Explorer
O observatório espacial Swift é uma missão da NASA em colaboração com outros países, lançada em Novembro de 2004 e com uma duração prevista de 2 anos. O objectivo é estudar as fulgurações de raios gama em vários comprimentos de onda. Para tal, conta com três instrumentos: o Burst Alert Telescope (BAT), que monitoriza o céu em raios gama à procura das fulgurações, o telescópio de raios-X XRT e o telescópio óptico e ultravioleta UVOT.
(NASA), o SWAS
Submillimeter Wave Astronomy Satellite (SWAS)
O SWAS é um projecto da NASA concebido para estudar a composição química das nuvens de gás interestelar. Este satélite foi lançado no dia 5 de Dezembro de 1998, tendo sido colocado numa órbita terrestre baixa. O objectivo principal deste instrumento é rastrear água, oxigénio molecular, carbono e monóxido de carbono numa variedade de regiões de formação de estrelas na nossa galáxia.
, o Observatório de Raios-X XMM-Newton
X-ray Spectroscopy Multi-Mirror Mission (XMM-Newton)
Satélite de raios-X da Agência Espacial Europeia colocado em órbita no dia 10 de Dezembro de 1999, com a ajuda de um foguetão Ariane 5. Este satélite é o segundo de uma série de missões no âmbito do programa espacial europeu de longo termo Horizon 2000.
(ESA) e a sonda Rosetta (ESA) estarão a apontar para lá. Em Terra, o VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
(ESO
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
), o Telescópio Keck
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
, o Observatório de Kitt Peak
Kitt Peak National Observatory (KPNO)
O Observatório Nacional de Kitt Peak (KPNO) faz parte dos observatórios da NOAO e inclui diversos telescópios ópticos, de infravermelhos e um telescópio solar, além de operar, em consórcio, 19 telescópios ópticos e dois radiotelescópios. O KPNO situa-se a 90 km de Tucson, no Arizona (EUA).
, o Observatório de Palomar, e mais algumas dezenas de telescópios acompanharão a colisão. Alguns destes telescópios já começaram a monitorizar o cometa Tempel 1.

O cometa Tempel 1 foi descoberto em 1867 por Ernst Tempel. O cometa já efectuou várias passagens pelo interior do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, o que o torna um bom alvo para estudar as alterações no seu manto. A sua órbita à volta do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
tem um período de 5,5 anos e coloca-o a uma distância entre Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
e Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, com o periélio
periélio
O periélio é o ponto da órbita de um corpo que orbita o Sol em que este se encontra mais próximo do Sol.
a 1,5 UA
unidade astronómica (UA)
Unidade de distância, definida como a distância média entre a Terra e o Sol, que corresponde a 149 597 870 km, ou 8,3 minutos-luz.
. A colisão do impactor não provocará alterações significativas à sua órbita.

Os cometas são restos do material que formou o nosso Sistema Solar e, por isso mesmo, objectos extremamente úteis para conhecermos os primeiros tempos do Sistema Solar. Colisões de cometas com a Terra, ocorridas no passado, podem ter tido um papel extremamente importante na evolução da Terra, principalmente na altura da sua formação. Há quem defenda que foram os cometas que trouxeram água e moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
orgânicas para a Terra.

Ainda há muito para saber sobre os cometas e espera-se que alguns dos seus segredos sejam agora desvendados. A missão Deep Impact focará as seguintes questões:
1) Quais as propriedades básicas do núcleo?
2) Que alterações sofreu o cometa ao longo da sua vida?
3) Quais os tipos de gelo que não se alteraram desde que o cometa se formou?
4) Poderá o calor
calor
O calor é energia em trânsito entre dois corpos ou sistemas.
do Sol gastar todo o gelo de um cometa e torná-lo extinto, ou este guardará algum do seu gás e gelo, e após um período dormente, reactivar-se-á?
5) Os pequenos cometas colidem e formam os maiores?
6) Há crateras de impacto
cratera de impacto
As crateras de impacto são depressões circulares resultantes de colisões entre corpos pequenos (por exemplo cometas, asteróides ou meteoritos) e a superfície de corpos celestes maiores, tais como planetas ou satélites naturais. As crateras de impacto possuem geralmente um bordo levantado, formado pelo material ejectado aquando da colisão.
em cometas, tal como há nas luas e nos asteróides
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
?
7) Poderá o curso de um cometa ser alterado para evitar uma colisão com a Terra


O NUCLIO - Núcleo Interactivo de Astronomia, em parceria com o IGeoE - Instituto Geográfico do Exército, promove uma sessão de acompanhamento da colisão da Deep Impact com o cometa Tempel 1, no dia 4 de Julho. A partir das 06:30, a ESA-TV será transmitida em directo e estarão presentes cientistas para comentários e esclarecimentos. Mais informação em: http://www.nuclio.pt/projectos/000040.html

Sobre a missão Deep Impact, pode encontrar mais informação em:
http://www.nasa.gov/mission_pages/deepimpact/main/index.html
e
http://deepimpact.jpl.nasa.gov/home/index.html