Mistério da estrela KIC 8462852 estará provavelmente relacionado com cometas

2015-11-25

Esta ilustração mostra uma estrela atrás de um cometa despedaçado. Crédito: NASA/JPL-Caltech.
A estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
KIC 8462852 tem nos últimos tempos sido notícia devido ao seu comportamento bizarro e inexplicável. A Missão Kepler da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
monitorizou a estrela durante quatro anos, observando dois incidentes fora do comum, em 2011 e 2013, quando a luz da estrela diminuiu de brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
de uma forma dramática e nunca antes vista. Algo teria passado em frente à estrela bloqueando a sua luz, mas o quê?

Os cientistas relataram as descobertas em setembro, sugerindo como explicação mais provável uma família de cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
. Outras causas citadas incluíam fragmentos de planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
e asteroides e houve até quem especulasse sobre a possibilidade de haver uma megaestrutura artificial a girar em torno da estrela.

Um novo estudo que usou dados do Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
da NASA parece ter resolvido o mistério, encontrando mais provas para o cenário que envolve um enxame de cometas. O estudo, liderado por Massimo Marengo, da Iowa State University, Ames, foi aceite para publicação no Astrophysical Journal Letters.

Uma forma de conhecermos melhor a estrela é através do seu estudo em luz infravermelha
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
. O Kepler tinha-a observado em luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
. Se um impacto planetário, ou uma colisão entre asteroides, estivessem por detrás do mistério de KIC 8462852, então deveria haver um excesso de luz infravermelha em torno da estrela. Pedaços de rocha cobertos de poeira estariam à temperatura certa para brilharem nos comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
infravermelhos.

Primeiro, os investigadores tentaram procurar luz infravermelha em dados do WISE (Wide-Field Infrared Survey Explorer), da NASA, e não encontraram. Mas essas observações foram feitas em 2010, antes dos acontecimentos estranhos observados pelo Kepler.

Então, para procurarem luz infravermelha que pudesse ter sido gerada após os raros eventos, os investigadores voltaram-se para o Spitzer, que, tal como o WISE, também deteta luz infravermelha. Acontece que o Spitzer observou KIC 8462852 mais recentemente, em 2015.

"O Spitzer observou as centenas de milhares de estrelas onde o Kepler andou à caça de planetas, na esperança de encontrar emissão infravermelha da poeira circum-estelar," disse Michael Werner, cientista do projeto Spitzer no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, em Pasadena, Califórnia, e o investigador principal deste particular programa de observação Spitzer/Kepler.

Mas, tal como o WISE, o Spitzer não encontrou qualquer excesso significativo de luz infravermelha relativa a poeira quente. Isto torna muito improváveis as teorias de colisões rochosas e favorece a ideia de os cometas frios serem responsáveis. É possível que uma família de cometas esteja a viajar numa órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
muito longa e excêntrica em torno da estrela. À cabeça estará um grande cometa, que terá bloqueado a luz da estrela em 2011, como foi observado pelo Kepler. Mais tarde, em 2013, o resto da família, um bando de fragmentos variados deixados para trás, terá passado em frente à estrela e novamente bloqueado a sua luz.

Na altura em que o Spitzer observou a estrela, em 2015, estes cometas estariam mais afastados, tendo prosseguido a sua longa viagem em torno da estrela. Não deixariam qualquer assinatura de infravermelho que pudesse ser detectada.

Segundo Marengo, serão necessárias mais observações para ajudar a resolver o problema de KIC 8462852.

"Esta é uma estrela muito estranha," disse ele. "Faz-me lembrar quando descobrimos os primeiros pulsares. Estavam a emitir sinais estranhos que ninguém tinha visto antes, e o primeiro a ser descoberto foi-lhe atribuído o nome de LGM-1 ou Little Green Men (pequeno homem verde)." No final, os sinais de LGM-1 acabaram por ser um fenómeno natural.

"Podemos não saber ainda o que está a acontecer em torno desta estrela," observou Marengo. "Mas é isto que a torna tão interessante."

Fonte da notícia: http://www.jpl.nasa.gov/news/news.php?feature=4777