NASA anuncia que há água líquida a escorrer em Marte

2015-09-28

Estas estrias escuras e estreitas, com 100 metros de comprimento, às quais se dá o nome de linhas recorrentes nas encostas (ou RSL), fluindo nas vertentes de Marte, devem ter sido formadas por água corrente, presente nos dias de hoje. Recentemente, os cientistas planetários detetaram sais hidratados nas estrias da cratera Hale, o que ajuda a provar a hipótese inicial de que as estrias são formada pela água líquida. Julga-se que a cor azul que se observa acima das estrias escuras não está relacionado com a sua formação, mas que indica a presença de piroxenas. Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.
Novas descobertas da sonda Mars
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
Reconnaissance Orbiter
(MRO), da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, revelam fortes evidências da existência de água líquida a fluir de forma intermitente em Marte.

Usando o espectrómetro
espectrómetro
O espectrómetro é um instrumento cuja função é medir os comprimentos de onda de um determinado espectro de luz, permitindo identificar as espécies químicas responsáveis pelas riscas existentes nesse espectro.
de imagem da sonda MRO, os investigadores detetaram assinaturas de sais hidratados nas encostas do planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
vermelho onde se observam estrias misteriosas. Estas ravinas escuras surgem e desaparecem no terreno ao longo do tempo. Durante as estações quentes, escurecem e parecem fluir pelas encostas íngremes, mas nas estações mais frias desaparecem. Surgem em vários locais do planeta quando as temperaturas estão acima de -23 graus Celsius para desaparecerem quando as temperaturas descem.

"A nossa missão em Marte tem sido a de seguir a água, à procura de vida no Universo, e agora temos dados convincentes que validam o que suspeitávamos há muito tempo", disse John Grunsfeld, astronauta e administrador associado do Science Mission Directorate da NASA, em Washington. "Trata-se de um desenvolvimento significativo, que parece confirmar que a água - embora salgada - flui hoje sobre a superfície de Marte."

Os fluxos descendentes, conhecidos como linhas recorrentes nas encostas, ou RSL (do inglês recurring slope lineae), têm sido muitas vezes relacionados com a água no estado líquido. As novas descobertas de sais hidratados nas encostas indicam que pode ser essa a relação. Os sais hidratados baixam o ponto de congelação de uma solução salina líquida; para perceber o processo, basta lembrar como o sal faz o gelo e a neve derreterem mais rapidamente nas estradas da Terra, durante o inverno. Os cientistas dizem que a maior parte do fluxo é provavelmente subsuperficial, mas a pouca profundidade, com uma quantidade de água suficiente a chegar à superfície para explicar as linhas escuras.

"Só encontrámos os sais hidratados quando as estrias sazonais eram maiores, o que sugere que as próprias estrias ou o processo que as forma é a fonte da hidratação. Em qualquer dos casos, a deteção de sais hidratados nestas estrias significa que a água desempenha um papel vital na sua formação", disse Lujendra Ojha, do Instituto de Tecnologia da Geórgia (Georgia Tech), em Atlanta, principal autor de um artigo sobre estes resultados publicado a 28 de setembro pela revista Nature Geoscience.
Ojha notou pela primeira vez estas características intrigantes em 2010, quando ainda era um estudante da Universidade do Arizona, através de imagens de alta resolução do instrumento HiRISE (High Resolution Imaging Science Experiment), da MRO. As observações do HiRISE documentaram linhas RSL em dezenas de lugares em Marte. O novo estudo relaciona observações do HiRISE com o mapeamento de minerais do espectrómetro CRISM (Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars) da sonda MRO.

As observações do espectrómetro mostraram assinaturas de sais hidratados em vários locais com linhas RSL, mas apenas quando as linhas escuras eram relativamente extensas. Analisando os mesmos locais quando as linhas RSL não eram tão extensas, os investigadores não detetaram qualquer sal hidratado.

Ojha e os restantes autores do artigo interpretam as assinaturas espectrais como causadas por minerais hidratados que se designam por percloratos. Os sais hidratados cujas assinaturas químicas mais se assemelham às encontradas são uma mistura de perclorato de magnésio, clorato de magnésio e perclorato de sódio. Sabe-se que alguns percloratos evitam que os líquidos congelem, mesmo quando as temperaturas atingem os -70 graus Celsius. Na Terra, os percloratos produzidos naturalmente concentram-se nos desertos.

Os percloratos já tinham sido detetados em Marte. A sonda Phoenix e o rover Curiosity, da NASA, encontraram-nos no solo do planeta, e alguns cientistas acreditam que as missões Viking na década de 1970 mediram assinaturas desses sais. No entanto, o estudo realizado nas linhas RSL detetou percloratos, agora na forma hidratada, em áreas diferentes das exploradas pelas sondas. Esta é também a primeira vez que os percloratos foram identificados a partir da órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
.

A sonda MRO, com os seus seis instrumentos, tem vindo a analisar Marte desde 2006.

"O facto da MRO conseguir observar Marte ao longo de vários anos com um equipamento capaz de ver pequenos detalhes tem permitido grandes resultados: primeiro, identificar estes intrigantes sulcos sazonais, e, agora, dar um grande passo no sentido de explicar o que são", disse Rich Zurek, cientista do projeto MRO, no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (JPL), em Pasadena, Califórnia.

Para Ojha, as novas descobertas são mais uma prova de que as linhas misteriosas a escurecer as encostas marcianas, que viu pela primeira vez há cinco anos, são, de facto, água.

"Quando a maioria das pessoas fala de água em Marte, geralmente está a falar de água antiga ou água congelada", disse ele. "Agora sabemos que a história tem mais para contar. Esta é a primeira deteção espectral que inequivocamente dá apoio às nossas hipóteses de formação das RSL por água líquida."

"Foram precisas várias missões ao longo de vários anos para resolver este mistério, e agora sabemos que há água líquida na superfície deste planeta frio e deserto", disse Michael Meyer, cientista-chefe do Programa de Exploração de Marte, da NASA, na sede da agência em Washington. "Parece que quanto mais estudamos Marte, mais aprendemos sobre o que permite a existência de vida aqui e onde existem recursos para poder sustentá-la no futuro."

Veja o vídeo com uma animação mostrando os fluxos sazonais na cratera Hale, aqui: https://youtu.be/MDb3UZPoTpc

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/press-release/nasa-confirms-evidence-that-liquid-water-flows-on-today-s-mars