O maior buraco negro estelar da Via Láctea

2001-12-10

Representação do sistema binário GRS 1915+105, no qual se acredita existir um candidato a buraco negro. A distância entre a estrela e o buraco negro é aproximadamente metade da distância entre a Terra e o Sol. O desenho mostra como a estrela \"alimenta\" o buraco negro através de um disco de acreção; note-se a emissão de jactos perpendiculares ao disco. No painel inferior, a cor azul representa matéria que cai no disco de acreção, enquanto na região cor-de-laranja a matéria encontra-se em queda livre radial para dentro do buraco negro. Crédito: ESO PR Foto 31a/01.
Utilizando o instrumento ISAAC montado no telescópio ANTU de 8,2 m do VLT
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
, no European Southern Observatory
European Southern Observatory (ESO)
O Observatório Europeu do Sul é uma organização europeia de Astronomia para o estudo do céu austral fundada em 1962. Conta actualmente com a participação de 10 países europeus e ainda do Chile. Portugal tornou-se membro do ESO em 1 de Janeiro de 2001, no seguimento de um acordo de cooperação que durou cerca de 10 anos.
(ESO, Cerro Paranal, Chile), uma equipa de astrónomos observou, numa região remota da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
, o sistema binário GRS 1915+105, a uma distância de quase 40 000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
.

A equipa identificou a estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
de pequena massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
que gira em torno dum candidato a buraco negro
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
, alimentando-o através dum fluxo contínuo de matéria. A presença de riscas de monóxido de carbono no espectro da estrela doadora permitiu estudar o movimento orbital do sistema, a partir do qual deduziram um limite mínimo para a massa do candidato a buraco negro. A identificação da estrela visível possibilitou uma estimativa da sua massa, enquanto as características dos jactos impuseram constrangimentos importantes à inclinação da órbita
inclinação de uma órbita
A inclinação da órbita de um astro é definida pelo ângulo entre o plano orbital do astro e outro plano de referência. No caso de um planeta do Sistema Solar, o plano de referência é o plano da órbita terrestre; no caso de um satélite, a referência é geralmente o plano equatorial do planeta.
. Com esta informação adicional, os astrónomos concluíram que a massa do provável buraco negro é 14 vezes a massa do sol.

Até agora, este método foi utilizado para determinar a massa de cerca de uma dúzia de candidatos a buracos negros na nossa galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
. De entre eles, GRS 1915+105 é o que possui massa mais elevada.

Este resultado desafia os astrónomos a explicar como é que um objecto de massa tão elevada pode ser formado num sistema binário. Sabe-se que a maior parte das estrelas perde uma fracção significativa da sua massa no final das suas vidas através de ventos estelares violentos. Num sistema binário, esse processo pode ainda ser mais acentuado para a estrela de maior massa, sendo uma incógnita como pode dar origem a um buraco negro de massa tão elevada quanto a do GRS 1915+105.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2001/pr-24-01.html